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A importância da literatura infantil no desenvolvimento da criança

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Por Luana Chrispim – 

A literatura infantil teve início na Europa, em meados do século XVIII, quando, devido às transformações sociais da época, a criança começou a ser vista como tal, deixando para trás a concepção de mini adulto. A partir de então, obteve um novo status e, se antes consumia as mesmas obras literárias dedicadas aos adultos, no novo cenário ganhou um espaço literário só para ela.

No Brasil, apesar de serem publicados no início do século XIX, foi só ao final deste que os livros dedicados ao público mirim começaram a circular. Os períodos seguintes foram marcados por importantes mudanças que contribuíram, cada uma em seu tempo, para consolidar o segmento.

Atualmente, a literatura para crianças ganha cada vez mais destaque e tem esse prestígio refletido no mercado editorial. Segundo o Diagnóstico ANL do Setor Livreiro de 2012, elaborado para a Associação Nacional de Livrarias – ANL, o gênero aparece em evidência, respondendo por 74% dos livros comercializados nas 716 livrarias consultadas.

Fundamental na formação do indivíduo, o hábito da leitura na infância ajuda a despertar na criança o senso crítico, além de auxiliar o aprendizado. “A base do pensamento é a linguagem e a literatura fornece à infância alimentos primordiais para seu desenvolvimento: palavras significantes e imaginação”, diz o escritor e doutor pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – USP, Ilan Brenman.

De acordo com a escritora e especialista em literatura infantil e juvenil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Flávia Côrtes, a criança adquire mais facilmente o conhecimento, além de se comunicar melhor. “A leitura em geral faz o indivíduo crescer, experimentar mundos novos, sensações, sentimentos”, afirma.

“A leitura de textos de literatura infantil, mesmo para crianças ainda não alfabetizadas, é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa”, explica Lia Cupertino Duarte, doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP e diretora da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo – FATEC.

A família e os professores têm papel substancial para auxiliar os infantes a desenvolver o gosto pela literatura. De acordo com Brenman, estes precisam ter modelos de leitores e ter contato com os livros, seja em livrarias, bibliotecas ou salas de leitura. Para ele, toda a comunidade deveria assumir o papel de formador de leitores. Côrtes acredita que se deve fazer do momento da narração de histórias um momento de prazer, inclusive nas escolas e não apenas como avaliação do aluno. Para Duarte, “estimular o hábito de leitura da literatura dos filhos será muito mais fácil se os próprios pais gostarem de ler e fizerem isso com frequência”.

Entre os gêneros mais indicados para ampliar na criança o gosto pela literatura, Duarte diz que há uma variedade deles que podem ser utilizados em diversas técnicas e abordagens e que é essencial a criança ter a liberdade de escolher os livros que quer ler e ter acesso a eles desde cedo. Brenman e Côrtes destacam a poesia, a parlenda, o humor, os contos de fadas, as fantasias em geral. Para ambos, a poesia aguça a criatividade e estimula a percepção de mundo. “A poesia é um espelho do funcionamento da alma infantil, os poetas tem uma conexão direta com a infância”, expõe Brenman.

“A poesia toca fundo na alma. É uma das maiores representações de arte na literatura infantil. A poesia é mais completa, envolve a história e a sonoridade. Acho que o ser humano já nasce com ela”, exprime Côrtes. Ela afirma ainda que através dos contos de fadas, a criança interpreta as grandes questões do ser humano, como a perda, o amor, o companheirismo e a amizade.

Além das histórias permeadas de fantasia, a literatura infantil apresenta uma peculiaridade elementar: a ilustração. “A representação imagética é um outro olhar sobre o texto no livro infantil”, assegura a escritora. Ela explica ainda que essa particularidade, além do texto, é o que também diferencia a obra juvenil. “O jovem pode até gostar dos mesmos temas, mas já vai abolir livros que tenham muita ilustração, com capa muito infantil”, complementa.

Brenman considera peculiar do segmento os projetos gráficos ousados, com tamanhos e formas distintas e textos criativos, mas acredita, no entanto, que o nível da produção pode agradar ao público adulto. “Acredito numa literatura só, quando ela é de qualidade a idade do leitor desaparece, ela é infantil porque é lida por crianças, mas já vi adultos impactados com a leitura de livros infantis”, diz.

Não obstante, há uma fase em que a criança começa a migrar para uma literatura mais juvenil e desta para a adulta, porém isso vai depender do amadurecimento de cada um. “Cada leitor tem seu processo único de migração, alguns mais lentos e outros mais rápidos. A literatura juvenil seria uma dessas pontes para a literatura adulta”, afirma o escritor.

Côrtes aquiesce afirmando que é a experiência de vida que o indivíduo tem que fará com que ele se interesse por determinado assunto, mas considera difícil marcar esse ponto. Entretanto, ela salienta que há um instante em que o jovem perde o gosto pela leitura e não se sabe exatamente o motivo. “Acredito que seja porque ele perdeu o momento afetivo em casa, ao mesmo tempo em que ele tem mais responsabilidades e menos tempo. Além disso, na escola a literatura passa a ser obrigatória, então não busca mais o livro pelo prazer”, esclarece.

Sobre a produção literária para as crianças, Côrtes afirma que é uma atividade difícil e que é preciso “ser simples, sem ser simplório”. Brenman também considera essa tarefa um grande desafio. “Não podemos achar que eles aceitam ou precisam de uma literatura fácil, mastigada, simplificada, pelo contrário, devemos proporcionar uma experiência em que os leitores se desloquem do seu lugar habitual. É preciso ter muito respeito à inteligência infantil”, exprime o escritor.

Duarte endossa ao dizer que “em virtude da especificidade do seu público, [a literatura infantil] deve conter as necessárias adaptações que, por sua vez, não devem redundar em simploriedade ou impostura repetitiva, uma vez que os valores dela exigidos são idênticos àqueles que contam para a avaliação dos textos literários destinados aos adultos”.

* Publicado originalmente no Blog Educação.

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