Desde 2017, agosto é considerado o mês do aleitamento materno, também conhecido como Agosto Dourado. O dourado faz alusão à definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o leite materno: alimento que vale ouro para a saúde dos bebês. Não por coincidência, a Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2019 acontece entre os dias 1 e 7 de agosto com o slogan “Capacite os pais e permita a amamentação, agora e no futuro!”
Mesmo a amamentação sendo uma grande aliada da saúde da criança por conta de seus inúmeros benefícios multifuncionais, que além de nutrição tem grande poder de prevenir doenças, de acordo com dados da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), as taxas mundiais de aleitamento materno ainda estão muito abaixo do ideal. A cada três crianças nascidas no mundo, duas não são alimentadas exclusivamente com leite materno até os seis meses.
Porém, quando se trata de bebês prematuros, as dificuldades são ainda maiores.
Hoje a prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil no Brasil. O país é 10º no ranking mundial da prematuridade onde mais de 12% dos partos realizados são de prematuros. Neste sentido, a Associação Brasileira de Pais e Familiares de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, reforça o papel essencial que a amamentação e o leite materno têm para a saúde dos prematuros, com impacto positivo para o seu crescimento e desenvolvimento saudável, além da qualidade de vida durante a primeira infância até a fase adulta, evitando doenças como diabetes e hipertensão, entre outras.
O leite materno das mães de prematuros é diferente do leite produzido pelas mães de bebês que nascem a termo, principalmente no que diz respeito à quantidade de proteínas, calorias e fatores de proteção da imunidade. A amamentação do prematuro, além de fortalecer o vínculo mãe-filho, muitas vezes abalado por longas permanências na UTI Neonatal, é responsável por favorecer a maturação gastrintestinal e aumentar o desempenho neuropsicomotor dessas crianças.
Denise Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade.com, acredita que a amamentação de recém-nascidos prematuros é um desafio que exige muita dedicação e paciência por parte tanto das famílias, e aqui logicamente a mãe tem papel principal, quanto dos profissionais de saúde. “Todos, família e profissionais, precisam estar afetivamente disponíveis para que o aleitamento do prematuro aconteça, e isso significa empatia, doação de tempo, não desistir e realmente acreditar na importância daquele ato”, afirma Denise.
A enfermeira neonatal e vice-diretora da ONG, Aline Hennemann, trabalhando em UTI neonatal por vários anos, pensa que “os benefícios do aleitamento transcendem as paredes do hospital e se sobrepõem às dificuldades que possam haver nesse processo. Por isso, não só devemos instrumentalizar as equipes com conhecimento técnico, mas também incentivar a afetividade nesse momento. Realizar a escuta ativa do bebê, da mãe, pai e todos os envolvidos no processo é essencial para que haja sucesso”.
Já o professor Marcus Renato de Carvalho, IBCLC, UFRJ, editor do portal aleitamento.com explica que o método canguru também pode ser aplicado nesta fase, aumentando ainda mais o vínculo da mãe com o bebê prematuro. “O Cuidado Mãe-Canguru possibilita que o recém-nascido prematuro possa ser amamentado. Na impossibilidade, o contato pele-a-pele permite que a mãe produza mais leite e que o aleitamento materno seja possível de alguma maneira”, explica.
Dificuldade de amamentar o filho
Mãe do Theo, que nasceu prematuro com 24 semanas e 800 gramas, a arquiteta de 42 anos, Cândida Damasio, conta que sua gestação aconteceu de forma tranquila, mas que uma infecção assintomática, acelerou o parto. Cândida conta que no começo tinha pouco leite, tanto pelo parto no sexto mês de gravidez, quanto pelo choque do parto prematuro. Ela explica que ainda durante a internação, extraia o pouco colostro produzido com uma bombinha e que depois de sua alta, continuou a extração do leite materno na Sala de Coleta do hospital, de três em três horas, todos os dias.
Por muitas vezes, ela teve vontade de desistir pelo desgaste da situação, por ainda produzir pouco leite e não poder amamentá-lo no colo, mas seguiu firme. Mesmo após várias complicações comuns aos prematuros, e com a perseverança na mãe, o Theo começou a receber o leite por meio de uma sonda especial, até que conseguiu sugar o peito da mãe com a ajuda da equipe de saúde da UTI neonatal, 93 dias depois do nascimento. “Quem não está familiarizado com o universo da prematuridade, não tem a dimensão real das batalhas diárias que enfrentam os bebês e os pais de prematuros. É como vivenciar o estresss de uma guerra, já que todos os dias acontecem pequenas intercorrências que nos assustam”.
Theo ficou quase cinco meses na UTI neonatal, mas continuava a ser amamentado pela mãe e à noite, com a ajuda das enfermeiras, com o complemento de fórmula na mamadeira para ajudar na demanda necessária ao bebê. Na volta para casa, Theo seguiu sendo amamentado pela mãe de três em três horas até os nove meses. “Mesmo com todo o estresse, eu continuava me alimentando bem e bebendo muita água para aumentar a produção de leite. Todo o esforço, a persistência e força de vontade pela amamentação materna do Théo foi gratificante e valeu muito a pena. Hoje ele está com sete anos e é um menino saudável e feliz, minha maior realização”, conta Cândida emocionada.
Para ajudar as mamães de prematuros na importante etapa da amamentação, a ONG Prematuridade.com listou 10 dicas para o aleitamento materno de bebês pré-termo:
1. Apesar de nem tudo correr como planejado, é preciso estar calma e ser perseverante para que o bebê prematuro possa usufruir todos os benefícios da amamentação e se desenvolva com mais saúde;
2. As mamães não podem se esquecer da qualidade de sua alimentação, pois o bebê vai necessitar de gorduras, proteínas e outros componentes do leite. Então, é importante manter uma alimentação saudável. Também não se esqueça de beber muita água, no mínimo 2 litros por dia;
3. Tão logo seja possível, a equipe de profissionais de saúde deve estimular a mama da mãe, extraindo o colostro, de preferência nas primeiras 24 horas após o parto;
4. A ordenha pode ser feita com as mãos (solicite ajuda de um profissional na primeira ordenha e sempre que necessário) ou com uma bombinha (manual ou elétrica). Não tenha vergonha de procurar ajuda;
5. Faça a extração do leite com uma frequência aproximada de 3/3 horas, de 6 a 8 vezes por dia. No começo, a quantidade de leite que sai pode parecer pequena, mas não desista. Mantenha a ordenha do leite – quanto mais você ordenhar, mais leite vai produzir;
6. Tente não ficar mais de 6 horas sem tirar leite. Quanto mais regulares forem as ordenhas, maior será a produção;
7. Já é possível encontrar bombinhas elétricas para comprar ou alugar, visando facilitar a retirada do leite em casa após a alta. Informe-se no próprio hospital;
8. Para os prematuros que não têm condições de sugar adequadamente, a equipe de saúde deve orientar sobre qual a melhor forma de oferecer o leite materno por outras vias: sonda, seringa ou copinho;
9. Com o passar dos dias, à medida que desenvolve os reflexos naturais de sucção e de deglutição, o bebê fica apto a alimentar-se por via oral. Daí cabe à equipe da UTI Neonatal avaliar a viabilidade do início da amamentação;
10. Já em casa, amamente exclusivamente, evite o uso de mamadeiras e chupetas. Se precisar sair de casa sem o bebê, peça para alguém oferecer seu leite ao bebê utilizando um copinho.
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