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Análises confirmam presença de substância proveniente de queimadas em água da chuva

Pesquisadores do Instituto de Química da USP identificaram a presença de reteno em uma amostra da água, que é uma substância proveniente de queimadas.

 

Na última segunda-feira, dia 19, o dia virou noite. Por volta das 15 horas o céu da região metropolitana de São Paulo e de cidades vizinhas, ficou tomado por uma escuridão, passando a impressão de que o dia havia terminado mais cedo.

A explicação é que, além da chuva, a região sudeste foi atingida por uma grande nuvem de fumaça, resultado de queimadas nas regiões Norte e Centro Oeste do Brasil, além de países vizinhos como Bolívia e Paraguai, que acontecem desde o último dia 10. De acordo com especialistas, por conta da circulação dos ventos, essa ‘poeira’ foi trazida com mais força para o sudeste, onde foi notada por muitas pessoas.

A bióloga Martha Argel, moradora de São Paulo, percebeu que havia algo de estranho quando foi trocar a água de seus coletores de água da chuva. “Depois da primeira chuva, fui jogar fora a água das bacias que uso para a coleta, como sempre faço. A primeira pancada de chuva depois de um período de alguns dias secos sempre é muito suja. Como o dia já estava escuro às 4 da tarde, não consegui ver direito, mas me pareceu muito mais suja do que o normal. Achei que fosse poluição, mas era muito estranho o ar estar tão poluído, porque ao longo do dia não tinha visto no horizonte nenhuma camada de poluição digna de nota”, conta. Ela foi perceber que a água da chuva estava repleta de fuligem só no dia seguinte, quando observou que a água coletada durante a noite estava tão suja quanto a do dia anterior.

Pesquisadores do Instituto de Química da USP fizeram a análise de uma amostra da água retirada de uma residência de Santo André, na Grande São Paulo, e confirmaram a identificação de reteno, uma substância química pertencente à classe dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), proveniente de incêndios florestais. Já um teste realizado pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS) mostrou que a concentração de fuligem foi sete vezes maior do que a registrada na água de uma chuva normal, de acordo com uma reportagem da TV Globo.

(Foto reprodução: Martha Argel)

Amazônia pede socorro

As queimadas são um problema antigo na Amazônia, mas a quantidade de focos de incêndio registrados em 2019 é um dos maiores nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de queimadas cresceu mais de 80% entre janeiro e agosto de 2019 na comparação com o mesmo período de 2018.

Até mesmo a página da NOAA, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, um órgão norte-americano para assuntos sobre meteorologia e clima, divulgou no dia 16 de agosto em sua conta no Twitter imagens de satélite da fumaça cobrindo boa parte do nosso País.

As queimadas geram desequilíbrio no ecossistema como um todo. Esta prática, realizada em muitas partes do mundo, provoca a morte de animais e destroem seus ninhos, eliminando mais de uma geração de alguns exemplares da fauna local, gerando grandes prejuízos para a biodiversidade. Isso falar dos danos para a saúde. Um estudo feito por pesquisadores brasileiros, publicado em 2017 na revista Scientific Reports, revelou que partículas provenientes de queimadas na Amazônia induziram inflamação, estresse oxidativo e danos genéticos em células de pulmão humano.

Posicionamento do MMA

Após comparar a nuvem negra que cobriu São Paulo a uma fake news, durante a abertura da 27ª Feira Internacional da Bioenergia (Fenasucro), na última terça-feira, dia 20, em Sertãozinho (SP), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicou hoje em seu twitter um documento do INPE, assinado por Alberto Setzer, que faz um resumo do evento da tarde escura em São Paulo. “Deve ser considerado como a combinação de duas condições coincidentes, porém de natureza física distinta: a entrada de uma frente de ar frio, e a presença de uma nuvem de fumaça originada de queimadas originadas a centenas e até milhares de km de distância”, diz o documento de quatro páginas.

A declaração afirma ainda que no último dia 19, queimadas muito extensas, emitindo fumaça bastante densa, foram detectadas pelo INPE, no sudoeste da Bolívia, próximo à fronteira com o Brasil, se propagando em direção a São Paulo, mas que não seria suficiente para o escurecimento da região atingida “o que apenas pode ter sido consequência de nuvens baixas e médias muito concentradas”. No tuíte, o ministro afirma que “de todo modo estamos preocupados e a caminho de MT para apoiar os Estados no combate às queimadas” escreveu na rede social.

 

Imagem de capa: vista da zona norte de São Paulo com céu encoberto, garoa e frio às 16h desta segunda- feira (19). — Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo/matéria globo.com



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