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As solues do Hacking Rio

Como a tecnologia pode incentivar comportamentos e estilos de vida sustentveis? Essa foi a pergunta que norteou o desenvolvimento de um game para coleta sustentvel inteligente. O jogo foi desenvolvido usando uma placa de arduno (material usado em robtica). A ideia compensar quem deseja fazer a destinao correta de seus resduos. Com o game de coleta sustentvel, pensado para ser usado em eventos diversos, uma pessoa consegue informar por meio de QR Code que est separando seu lixo reciclvel e o depositando no local correto.

Em seguida, o nmero de materiais destinados reciclagem contabilizado e revertido em pontos. Os pontos, ento, podem ser trocados por produtos de empresas parceiras ou servios que estejam sendo oferecidos em determinado evento, diz Shirley Nunes, estudante de Engenharia de Produo da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, uma das criadoras do jogo. Se for um evento de games, quem reciclou x nmero de latinhas de refrigerante pode ganhar 30 minutos gratuitos para testar qualquer jogo, por exemplo. como se estivssemos colocando dinheiro em uma carteira virtual de quem recicla, explica Shirley.

Shirley e seus colegas de equipe criaram o jogo numa competio, o Hacking Rio 2019. O jogo, batizado por eles de Fun Collect, ganhou o primeiro lugar na categoria Sustentabilidade & Oceanos. Com o sucesso da iniciativa, eles agora sonham em abrir uma startup para viabilizar o projeto. Seu sonho bem realista. Afinal, o Hacking Rio, que aconteceu entre os dia 18 e 20 de outubro, na regio porturia do Rio de Janeiro, o maior hackathon do Brasil. A iniciativa visa exatamente juntar jovens talentos para responder a desafios propostos pelos organizadores (e pelas empresas patrocinadoras). Os jovens aplicam seus conhecimentos de programao, design e negcios para pensar numa soluo inovadora. Depois viram o fim de semana montando um prottipo do projeto.

Um hackathon um dos melhores lugares para presenciar a capacidade dos jovens brasileiros para encontrar solues criativas e economicamente viveis para os principais problemas do pas. Inclusive os grandes desafios de sustentabilidade. O Hacking Rio um evento privilegiado nesse aspecto. Foram 990 jovens inscritos para os desafios este ano. A competio de 42 horas teve o objetivo de desenvolver novas tecnologias capazes de solucionar tambm problemas como os de mobilidade, segurana e sade. Uma das novidades do Hacking Rio que os desafios estavam relacionados ao cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel da ONU, os ODS.

Esses objetivos organizam os grandes problemas sociais e ambientais do mundo – e do Brasil – como acesso a gua potvel e saneamento, reduo da pobreza, fim da fome, energia para todos, educao e sade, equidade de gnero etc. Os ODS ajudam a orientar quem quer pensar em solues para resolver os problemas do pas, que tambm criam oportunidades de negcios, diz Lindlia Junqueira, realizadora do Hacking Rio.

Se algum precisasse de inspirao, bastava olhar pelas janelas panormicas do 18 andar do prdio onde se reuniram os desenvolvedores participantes. A vista de 360 graus revelava toda a complexidade ambiental e social do Rio. De um lado, a Baa de Guanabara, poluda, com todo seu potencial de turismo e de transportes, navios de carga e de explorao de petrleo. De outro, a cidade com suas favelas conflagradas pela violncia, vulnerveis s chuvas, pulsando com gente empreendedora, as ruas congestionadas pedindo melhores solues de transporte e, ao fundo, a beleza do Po de Acar e do Corcovado.

A possibilidade de resolver problemas reais – e criar negcios economicamente viveis – o principal atrativo para os participantes. O analista de sistemas carioca Joo de Souza, de 30 anos, foi ao Hacking Rio e comeou a desenvolver uma soluo para identificar vazamentos de petrleo a partir de sensores instalados nas bias do oceano, capazes de assinalar a presena de gases associados ao leo na gua. A ideia surgiu l mesmo.

Joo v no hackathon uma oportunidade para pensar em problemas da sociedade e no apenas dos clientes que atende. Quando voc est atendendo o cliente, em geral trabalha com rotinas de procedimentos pr-estabelecidas, diz. Aqui no. So problemas novos. No tem soluo pronta. Voc precisa mergulhar no assunto na vida real, estudar qumica dos oceanos, comunicao em alto mar ou rotas de navegao.” Seu colega no desafio o empresrio Danilo Freitas Rangel, de 28 anos, de Campos dos Goitacazes, no norte do Estado do Rio.

Dono de uma empresa de moda, ele acredita nas oportunidades para criar softwares capazes de resolver problemas de mitigao ou monitoramento de desastres ambientais para a indstria do petrleo. Eu queria ter a satisfao de montar um negcio baseado em tecnologia para resolver desafios ambientais, disse. por isso que vim para o Hacking Rio. Essa expectativa rene quem est no hackathon. A tecnologia pode resolver grandes problemas ambientais de forma rpida. E ainda por cima gerando negcios viveis, diz Ana Luiza Mathias, diretora da Choice, uma iniciativa que orienta os jovens a resolverem problemas socioambientais. Ela estava como voluntria no Hacking Rio para orientar a rea de desafios de sustentabilidade.

A concentrao de gente com vontade de inovar interessa aos empresrios com negcios baseados em solues tecnolgicas para problemas ambientais. Foi por isso que a empresria Wilsa Atella se voluntariou para ser uma das mentoras da rea de desafios de sustentabilidade do hackathon. Ela dona da Ambidados, uma empresa do Rio especializada em sistemas de monitoramento do oceano, com clientes na indstria naval e no setor de leo e gs.

Seu interesse desenvolver tecnologias locais, focadas nas caractersticas ambientais e na infraestrutura do Brasil. Wilsa circulava por entre as mesas dos grupos do Hacking Rio dando orientaes tcnicas e de desenvolvimento de negcios. Ao mesmo tempo, ficava de olheira, avaliando possveis grupos com ideias promissoras para seu prprio negcio. No ano passado, quando participou de outro hackathon, interessou-se pelo projeto de um grupo que desenvolveu um sensor para medir a intensidade das ondas usando uma tcnica inovadora, que tornava o equipamento mais simples, resistente e barato.

Terminada a competio, ela fez uma parceria com o grupo, aperfeioou o aparelho dentro de sua empresa e lanou o sensor como um produto prprio no incio deste ano. Diz que j tem clientes para ele. A equipe que desenvolveu ganha um percentual das vendas. Agora estamos pensando num modelo que funciona como alerta para piscinas. Ele vai disparar um alarme se algum cai na gua e pode ajudar em acidentes com animais ou crianas, por exemplo, diz.

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