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Por Mônica Nunes, Conexão Planeta –
Na semana passada, em 9/10, a ministra da agricultura, Tereza Cristina, disse, em audiência pública da comissão temporária do Senado – que acompanha ações de enfrentamento aos incêndios no Pantanal –, que o boi é o “bombeiro” desse bioma e que os incêndios não teriam se alastrado, como aconteceu este ano, se houvesse mais gado na região.
(no dia seguinte, em transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente Bolsonaro confirmou o que disse a ministra e voltou a acusar indígenas e caboclos, no caso da Amazônia, como em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU)
As declarações dos dois se baseiam na tese defendida pelo chefe da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, assessor de Bolsonaro para assuntos que envolvem meio ambiente e agropecuária. Para ele, o boi pasta o capim que se transforma em massa combustível para os grandes incêndios no bioma.
Vale lembrar que Miranda era um dos cotados para assumir o cargo de ministro do meio ambiente. Bolsonaro escolheu Salles e ele ganhou o posto de uma espécie de “guru ambiental“, porque suas ideias apoiam o que o governo defende. Desde que assumiu essa “função”, ele tem divulgado falácias.
De acordo com o site de checagem de informações ambientais, Fakebook.Eco, não há qualquer relação “entre o tamanho do rebanho nos municípios pantaneiros e a ocorrência de queimadas. Ao contrário, o rebanho cresceu desde 1999, enquanto as queimadas variaram imensamente”.
Em agosto, o site rebateu as declarações de Miranda baseando-se em informações científicas e mapas – e ainda produziu um vídeo, que você pode assistir no final deste post. Tais dados também valem para contrapor as declarações recentes da ministra.
Quase que a totalidade das ocorrências de incêndios no Pantanal (especialistas falam em 95% a 98%) está associada à ação humana. Em vez de diminuir, como afirmou Tereza Cristina, a atividade pecuária foi expandida e o uso do fogo para fazer a limpeza das pastagens, eliminando o excesso de biomassa, aumentou. Quando o manejo com fogo sai de controle, é fonte de incêndios agravados pelo clima seco.
O boi maneja o capim, é verdade, mas sua ausência não é a principal causa do fogo já que não existe gado em todo o bioma. A grande questão, de acordo com essa checagem, é “a substituição da pecuária tradicional nos campos naturais por uma pecuária sobre áreas desmatadas, que converte áreas de floresta, savanas e campos naturais em pastagens com espécies exóticas”.
Vale ler a análise completa.
Conversa pra boi dormir
Em seu perfil no Instagram, o biólogo e divulgador científico, Hugo Fernandes, publicou post no qual rebate, de forma bastante dinâmica e pop, a declaração mentirosa de Tereza Cristina.
“Boi bombeiro é conversa pra boi dormir”, escreveu. “Entenda essa e outras balelas que estão distorcendo as reais causas para o descontrole das queimadas no Pantanal”.
Em sete ‘cards’ (acima, o primeiro), ele explica que “representantes do governo têm afirmado que o boi come matéria orgânica no solo pantaneiro, diminuindo o material combustível que propicia os incêndios. A justificativa é que ‘estão proibindo de criar boi no Pantanal’ e, por isso, os incêndios estão fora de controle. E a culpa seria das unidades de conservação e das populações indígenas“. E acrescenta: “Essa narrativa não é verdadeira”.
Em seguida, confirma que o boi pode ajudar a reduzir o material combustível do solo, mas que a afirmação de que proibiram a presença dos bois e que isso colaborou para que os incêndios se alastrassem “é a mais pura balela”. Em 20 anos, o gado no Pantanal aumentou 43%!
Em seguida, nega que a culpa é das unidades de conservação, que não têm boi nem pasto, que o “fogo frio“ (queima preventiva) foi proibido e ainda explica que, “embora os incêndios ocorram todos os anos, o que está acontecendo em 2020 é completamente fora dos padrões“.
Fernandes alerta: “30% do bioma já foi consumido pelas chamas!“. E sentencia: “Hoje, a principal causa para os incêndios é climática. O Pantanal enfrenta uma seca histórica, com 50% a menos do regime de chuvas. Mas há outros fatores a serem considerados, inclusive políticos”.
O desmatamento na Amazônia altera a umidade do bioma e diminui “os rios voadores” (responsáveis pelas chuvas no centro-oeste e sudeste) e não tem sido combatido pelo governo, que desestruturou órgãos de fiscalização e controle (Inpe, Ibama e ICMBio) e, por consequência, reduziu as brigadas de incêndio.
Se não existissem tantos voluntários e iniciativas para formar brigadistas no Pantanal – entre elas a Brigada Alto Pantanal, sobre a qual contamos aqui -, o fogo já teria destruído muito mais no bioma.
Para analisar a situação com justiça, portanto, é preciso respeitar a ciência e os fatos. E checar informações.
Infelizmente, sabemos que não é possível confiar no que diz o governo, já que ele está a serviço de interesses de uma minoria – empresários e adeptos do desenvolvimento a qualquer custo – e não da preservação e do bem estar da maioria dos brasileiros.
Quem tiver interesse, pode baixar todo o conteúdo integral divulgado por Hugo Fernandes e compartilhar em suas redes.
PF envia para MPF provas que apontam fazendeiros como responsáveis pelos incêndios
Em meados de setembro, a Operação Matáá (que significa fogo na língua indígena guató, povo que vive no sudoeste de MT) da Polícia Federal (PF) investigava o envolvimento de criminosos no aumento excessivo das queimadas no Pantanal nesta temporada e já suspeitava de cinco fazendeiros da região de Corumbá, no norte do Mato Grosso do Sul.
Os policiais suspeitavam que os pecuaristas teriam combinado queimadas na região, na linha do Dia do Fogo, em Novo Progresso, Amazônia, no ano passado.
Segundo a análise dos peritos, os focos de incêndio começaram em 30/6, quase na mesma hora, em propriedades localizadas na região oeste do rio Paraguai. Para eles, isso indica que a prática de colocar fogo na vegetação para ocupar a área com pastagens pode ter sido uma ação combinada entre os fazendeiros.
Em 25/9, a PF já tinha provas suficientes para que, ao menos, quatro desses fazendeiros fossem indiciados pelo início dos incêndio. Elas foram encaminhadas para o Ministério Público Federal (MPF) para análise e possível denúncia à Justiça Federal.
Os acusados poderão responder pelos crimes de dano à floresta de preservação permanente (Art. 38, da Lei no 9.605/98), dano direto e indireto a Unidades de Conservação (Art. 40, da Lei no 9.605/98), incêndio (Art. 41, da Lei no 9.605/98) e poluição (Art. 54, da Lei no 9.605/98). As penas podem ultrapassar 15 anos de prisão.
Em 14/9, os agentes da PF encontraram e apreenderam armas e munições de uso restrito na casa de Pery Miranda Filho: duas pistolas, um revólver, 108 munições de calibre permitido e 44 de calibre.
O fazendeiro foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. O crime é inafiançável, mas, de acordo com o site Repórter Brasil, ele foi solto no dia seguinte. E mais: de acordo com documentação à qual a reportagem teve acesso, o fazendeiro já vendeu gado para o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Agora, assista ao vídeo produzido, em agosto, pelo site de checagem de informações Fakebook.eco sobre o “boi bombeiro”:
Foto (destaque): Reprodução do documentário Sob a Pata do Boi
13 de outubro de 2020
Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
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