O aposentado mineiro Vamberto Castro, de 62 anos, que estava em estado terminal por conta de um linfoma não Hodgkins avançado, um câncer hematológico grave, deve receber alta neste sábado, 12. O paciente que tomava morfina todos os dias passou por um tratamento 100% brasileiro inédito na América Latina e não apresenta mais os sintomas da doença. O método conhecido como CART-Cell é baseado em uma técnica de terapia genética descoberta no exterior.
Os médicos e pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde o paciente está internado, apontam que ele está “virtualmente” livre da doença, mas ainda não falam em cura porque o diagnóstico final só pode ser dado após cinco anos de acompanhamento.
CAR T-cell, do inglês, significa “célula T com receptor de antígeno quimérico”. O nome indica que o tratamento usa células geneticamente modificadas. Trata-se de uma terapia recente para combater o câncer. Nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration, um órgão de vigilância sanitária semelhante à nossa Anvisa) liberou a terapia para uso comercial em 2018. Lá, como em outros países ricos, os resultados são tão promissores que renderam aos seus precursores o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina no ano passado.
“Nós desenvolvemos uma tecnologia toda nossa, toda nacional, dentro de um instituto público, dentro de um hospital público, apoiado pela USP, pela Fapesp, pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e pelo Ministério da Saúde. Portanto, (é) um tratamento que se destina aos nossos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma o médico hematologista Dimas Tadeu Covas, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do CTC.
O principal problema da terapia com células CAR T é o custo. Segundo Covas, nos EUA, a produção das células e as despesas hospitalares, juntas, chegam a custar US$ 1 milhão (mais de R$ 4 milhões). Covas calcula que a plataforma brasileira poderá baratear o tratamento em até 20 vezes, na comparação com o custo de um produto comercial. Além disso, a ideia é que o CTC mantenha aberto o protocolo de produção de células CAR T, permitindo que outros laboratórios reproduzam as técnicas para cuidar de mais pacientes.
“Representa um grande avanço científico, porque é um tratamento muito recente, uma tecnologia protegida por segredos industriais. E, por outro lado, é um grande avanço em termos sociais. Vamos poder oferecer isso, daqui a algum tempo, para a nossa população“, comemora o coordenador do CTC.
Com informações do Jornal da USP.
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