Como uma consequente preocupação da pressão estética à qual estamos expostos, a culpa ao comer é presente no dia a dia de muitas pessoas. A relação entre corpo e ato de comer potencializa sentimentos atrelados à alimentação. Quando se acredita que o corpo perfeito é o corpo demasiadamente magro, tudo que se come pode ser suficiente para arruinar o sonho da forma perfeita.
Embora a máxima sobre a igual importância entre a maneira que se come e o que se come seja verdadeira, ainda é comum que o hábito de fazer dietas e regimes restritivos seja perpetuado como uma maneira de melhorar a relação com a comida. O que fatalmente não persistirá por muito tempo, visto que é sabido por dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que apenas 5% das pessoas que emagrece por meio de dietas restritivas irá manter o peso perdido por dois anos ou mais. E ainda se especula que essa minoria, para manter o feito, adote comportamentos transtornados.
A maneira com a qual nos relacionamos com a comida interfere diretamente na alimentação e no sentido que lhe é dado, seja a um prato de salada, seja a uma fatia de pudim. Os sentimentos e pensamentos relacionados ao comer refletem muito mais que hábitos alimentares; no fundo, refletem o comportamento alimentar.
O comer com culpa é “normalizado” por muitos profissionais. Enquanto ainda houver reforço de nutricionistas, médicos e educadores físicos sobre força de vontade atrelada ao objetivo de emagrecimento, mais pessoas adoecerão na busca pelo corpo fitness. O debate sobre saúde se faz urgentemente necessário para ressignificarmos quais são os reais resultados do comer em paz e de maneira saudável. A culpa não deve preencher o prato de comida, nem deve estar na caixa de bombons. Comer com culpa não é e nem deve ser considerado algo saudável.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.
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