Pouco se fala sobre as vítimas invisíveis das agressões que acontecem entre quatro paredes: as crianças. Muitas crescem expostas a episódios de violência verbal, psicológica e física.
Para a psicóloga Laura França, do grupo ProntoBaby, os filhos chegam a se culpar por não conseguirem apartar as brigas ou proteger suas mães. “Além da frustração, a violência pode desencadear no jovem um excesso de tensão com a chegada do pai em casa, com uma constância de taquicardia”.
Em situações de violência, a Lei Maria da Penha confere à vítima e aos seus familiares medidas protetivas, como explica a advogada do hospital, Beatriz Guerra. “É feito um estudo para avaliar a real condição da criança para que sejam aplicadas as melhores medidas se houver risco a sua integridade física e emocional”.
Mas como agir nesses casos? Laura França esclarece as principais dúvidas sobre o assunto. Confira a seguir:
Que reações as crianças que presenciam a violência doméstica podem apresentar?
As crianças tendem a ficar com medo e raiva do pai agressor. Birras, choros e agressividade são comportamentos que demonstram o sofrimento de quem presencia o abuso doméstico. Outra atitude comum é querer chamar atenção, com o intuito de encerrar uma briga. Na escola, os mesmos comportamentos podem aparecer, além do déficit de atenção, que não necessariamente será um diagnóstico de uma vida toda, mas sim daquele momento. Caso a mãe não se retire do relacionamento abusivo, e as agressões tornem-se contínuas e progressivas, como é a tendência, aí, sim, o déficit de atenção pode se tornar um diagnóstico.
Conforme as crianças vão crescendo, como essa situação pode interferir diretamente em seu psicológico?
Essas circunstâncias podem desencadear na criança ou adolescente um excesso de tensão com a chegada do pai em casa, seguido de uma constância de taquicardia, por ser um estresse muito além do que ela deveria suportar. O jovem também pode se tornar maduro antes da hora, com um senso de responsabilidade grande sobre a família. E, quando adulto, pode chegar a um esgotamento emocional seguido de síndrome do pânico e depressão. Outras possibilidades são a compulsão alimentar (com ou sem obesidade) e a dependência química, ambos iniciados como uma necessidade de fuga da realidade.
Como fica o relacionamento do pai agressor com as crianças?
O pai que tem atitudes violentas com a mulher não é necessariamente agressivo com a criança.
Como a mãe deve agir para não influenciar o filho com o sentimento que ela tem pelo marido agressor?
Se o pai não é um risco para a criança, ele continuará convivendo com o filho. Portanto, é importante que a mãe consiga separar a figura do ex-marido da figura do pai do seu filho. É algo que pode ser bem difícil para a mulher, pois seu agressor é também o pai, na maioria das vezes, amado pelo filho. Assim, a psicoterapia pode ser essencial para algumas mulheres nesse processo.
Se a criança não tiver idade para entender a situação, qual é a melhor forma de explicar o afastamento do pai?
O melhor caminho é sempre a conversa. Se a criança participou dos momentos difíceis de violência em família, ela tenderá a compreender totalmente o afastamento do casal. Isso pode ser explicado pelos pais diretamente, sem rodeios, respeitando apenas o vocabulário da criança. “Papai e mamãe brigavam muito e será melhor virarmos só amigos” é uma boa explicação.
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