A pandemia do coronavírus e a necessidade de isolamento físico criarão, para todos nós, muitos desafios. A forma pela qual comemos certamente será um deles – talvez um dos mais difíceis, na verdade, para várias pessoas.
Como devemos comer nesse período de quarentena? Foi essa a pergunta que passei a receber, como um maremoto, nos últimos dias, tanto de pacientes quanto de seguidores no meu perfil do Instagram (@nutri_marcela). Por causa disso resolvi escrever esse texto.
Mais: durante a quarentena, decidi que minhas contribuições aqui na Catraca Livre se transformarão em uma série de artigos sobre como devemos comer durante esse período de isolamento físico, algo que certamente demandará muito cuidado e atenção de todos nós, especialmente daqueles que apresentam tendência a praticar um tipo específico de comer: o comer emocional.
O que é o comer emocional?
Antes de tudo, não é a mesma coisa que comer emocionado. Comer emocionado acontece com todos, sendo motivado por situações ou coisas que nos deixam felizes ou tristes.
Uma festa, um happy hour, ou uma reunião com amigos queridos, por exemplo, geralmente nos levam a comer mais, não somente porque a comida funciona quase que como uma graxa social nessas situações, mas também porque estamos felizes e relaxados de estar com pessoas com as quais gostamos e nos sentimos bem.
Da mesma forma, momentos de medo ou de profunda tristeza, quando alteram nosso apetite ou vontade de comer, também se enquadram em contextos de comer emocionado.
Algo muito diferente ocorre com o comer emocional. O comer emocional é uma maneira de usarmos a comida como uma espécie de resposta a emoções, sejam sentimentos positivos (euforia, alegria), mas, principalmente, sentimentos negativos (tristeza, ansiedade, medo, decepção). Aqui, diferentemente do comer emocionado, a comida tende a ser consumida sem planejamento, de forma voraz, e normalmente associada a uma forte sensação de descontrole, o que pode desencadear ciclos de comer emocional, culpa e mais comer emocional.
Daí, a primeira coisa importante em contexto de isolamento físico como este é o de tentar identificar potenciais gatilhos emocionais associados a impulsos por comida. Uma vez identificado o gatilho, deve-se partir para um conjunto de estratégias capaz de impedir que esse gatilho se transforme em impulso pelo comer emocional. Quais estratégias podemos construir nesse sentido, formando uma verdadeira barreira contra o comer emocional?
Estratégias contra o comer emocional
É sobre isso que quero escrever de modo mais detido nas próximas semanas. Elenco aqui, de modo sintético, algumas das estratégias que podem nos ajudar a evitar o comer emocional, e que gostaria que vocês já começassem a pensar desde já: primeiro, planejar e organizar refeições ao longo do dia; segundo, atuar de modo consciente ao ir ao supermercado; terceiro, construir uma rotina de trabalho e lazer em casa; e quarto, e talvez o mais importante, realizar exercícios regulares – mentais e/ou físicos – que ajudem a nos manter conectado com o nosso corpo.
Conexão com o próprio corpo, no fundo, é a principal maneira de nos manter atentos às nossas sensações de fome e saciedade, as quais, em última instância, constituem o antídoto mais eficaz para o perigo do comer emocional.
Convido você a partir de hoje a me acompanhar por aqui nesse caminho de estratégias contra o comer emocional. Passar pela quarentena em paz com a comida vai te ajudar não só física, mas também mental e emocionalmente. A comida não precisa ficar no lugar de vilã nesse período. Ela pode, e deve, fazer companhia se usada com toda importância e respeito que merece.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.