Estamos sempre em busca de estímulos que nos dão prazer total e as drogas acionam o sistema de recompensa do nosso cérebro, uma área encarregada de transmitir essa sensação para o corpo todo. A dependência química acontece quando o cérebro vai se interessando somente pela sensação de prazer provocada pela droga.
Apesar de cada pessoa sentir efeitos diferentes, a proposta é a mesma. Não importa se o prazer tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou LSD. A área estimulada do cérebro é a mesma e, por isso, só produzem dependência as drogas que atuam no sistema de recompensa.
Isso mesmo, nem todas as drogas químicas que já ouvimos falar são viciantes. O LSD, por exemplo, embora tenha uma ação no sistema nervoso central, alterando nossos sentidos, não dá prazer. E se não dá prazer, não cria dependência química.
Falha de caráter ou saúde pública?
A dependência química já foi tratada como falha de caráter, ou seja, era algo intrínseco à pessoa. Em determinada época foi vista apenas como caso de saúde pública. Atualmente já se entende que o problema é muito maior e mais complexo, e deve ser considerado as questões biológicas, psicológicas e sociais do dependente, a fim de evitar visões unilaterais do seu quadro.
Um exemplo interessante que mostra quão complexa é a dependência química, foi uma descoberta feita após a Guerra do Vietnã, quando uma grande quantidade de soldados voltou aos EUA dependente de heroína.
A dependência nessa substância é muito forte, e era esperado que os soldados continuassem viciados. Mas aconteceu justamente o contrário! Somente 1% deles continuaram dependentes químicos. Com isso, ficou entendido que o meio social é um dos fatores de grande importância para o tratamento da dependência química.
Há casos que fatores biológicos devem ser levados em maior consideração, assim como há outros que a ajuda psicológica é fundamental.
Sendo assim, a dependência química é entendida como um sintoma e não como uma causa. O dependente, na tentativa de viver continuamente sob o princípio do prazer, incorpora o consumo de uma substância ao seu cotidiano, o que vem a gerar a dependência.
Sinais de dependência química
A dependência química é um quadro muito complexo, difícil de diagnosticar.
Por exemplo, você consideraria aquela cervejinha após o trabalho um problema? Talvez não, mas beber socialmente três vezes por semana já é considerado um problema.
Mas calma… o ideal é ficar atento aos sinais excessivos ao uso de “muletas” para relaxar, como:
- Perda do interesse em tarefas comuns do dia a dia;
- Mudanças de comportamento com familiares e cônjuge (explosões de raiva, hostilidade e perda de interesse nas relações comuns);
- Falta de cumprimento e responsabilidades básicas;
- Irritação frequente com colegas e com a rotina;
- Apresentar comportamento paranoico;
- No aspecto físico, podem acontecer vômitos, dores abdominais, gastrite, aumento do fígado e diarreia;
- Confusões mentais e perturbações causadas pela perda das funções hepáticas, com aumento dos esquecimentos e do número de acidentes cotidianos
Tratamento
A dependência química tem caráter crônico, incurável e progressivo. Por isso, o indivíduo necessita de tratamento constante, independente de estar fazendo o uso ou não da droga.
Para isso é importante contar com o atendimento de especialistas como psicólogos e psiquiatras. Esse apoio deve se estender também aos familiares, já que a dependência química não afeta apenas o próprio dependente, mas também todo o seu entorno.
Os parentes e amigos precisam receber orientações sobre como lidar com o dependente e como se estruturar emocionalmente para essa tarefa.
Se você é ou conhece alguém que apresenta sintomas de uso excessivo de álcool ou outras substâncias químicas, não tenha medo de procurar um psicólogo. Ele é a pessoa mais indicada para ajudá-lo a entender o seu quadro.
No caso do tratamento, o papel do psicólogo é essencialmente ajudá-lo a reencontrar fontes de prazer que não dependam das substâncias químicas.
Existe droga leve?
Infelizmente não existem drogas leves. Se elas mexem no sistema de recompensa do cérebro, isso não pode ser positivo. Isso porque diante de uma fonte artificial de prazer, ele reage de modo impróprio.
Se existe a possibilidade de prazer imediato, por que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga danifica o repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não são imediatas.
É muito comum a gente ouvir que a maconha é uma droga leve, por exemplo. Na verdade, a maconha de hoje tem uma concentração de THC, seu princípio psicoativo, dez vezes maior que na década de 1960.
Mas segundo Ronaldo Laranjeira, psiquiatra e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista para o portal Drauzio Varella, não é tão fácil se afastar da maconha, principalmente se a pessoa começou a fumar na adolescência, que é quando o cérebro ainda está em formação.
Laranjeira comenta que o acompanhamento de usuários de maconha no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar.
E isso também serve para o cigarro, que muita gente nem enxerga como droga. Apesar da nicotina não ser tão poderosa quanto a maconha, ela é muito mais constante.
Cada tragada é semelhante a uma injeção de nicotina na veia e quando esse estímulo é repetido por anos, isso faz com que a dependência química de nicotina seja mais poderosa do que as outras. Por isso vemos muita gente com dificuldades de largar os cigarros.
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