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por ClimaInfo –
No Brasil, 330 mil vidas podem ser salvas ao ano por ação climática aliada à dieta com menos carne e comida processada
Um novo estudo da Lancet analisou as metas do Acordo de Paris de nove países, incluindo o Brasil, para medir os impactos de ações mais ambiciosas de combate às mudanças climáticas e com foco na saúde pública. O resultado aponta que 6,4 milhões de vidas seriam salvas todo ano nos nove países devido a uma dieta melhor; 2,1 milhões deixariam de morrer por adotarem uma locomoção mais ativa e por praticar exercícios; e 1,6 milhões de vidas seriam poupadas com um ar menos poluído.
A pesquisa faz parte da iniciativa Lancet Countdown on Health and Climate Change e foi publicada no dia 9/2 no número especial da revista The Lancet Planetary Health. Os países considerados no estudo representam 50% da população e 70% das emissões mundiais – África do Sul, Alemanha, Brasil, China, EUA, Índia, Indonésia, Nigéria e Reino Unido.
Somente no Brasil, um fortalecimento das metas do Acordo de Paris com medidas explícitas para a área da saúde faria com que 24 mil pessoas deixassem de morrer em decorrência da poluição do ar todos os anos até 2040. Ações de sustentabilidade atreladas à promoção de uma dieta mais equilibrada (com mais acesso a frutas e vegetais e menos ingestão de comida processada e carne vermelha) poderia salvar cerca de 330 mil vidas brasileiras ao ano. E medidas climáticas aliadas ao incentivo à mobilidade ativa poupariam mais de 100 mil vidas anualmente.
As metas individuais de cada país no Acordo de Paris são conhecidas pela sigla em inglês NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas). O estudo levou em conta diferentes cenários para a saúde pública, com as metas atuais e com NDCs mais ambiciosas e consistentes com o objetivo de limitar o aquecimento a “bem abaixo de 2°C”. Segundo a organização Climate Action Tracker, as metas atuais dos países investigados vão de criticamente insuficientes a insuficientes (caso do Brasil), com exceção da Nigéria que não teve sua NDC avaliada pela organização e da Índia, que apresentou metas nacionais consideradas compatíveis com os objetivos do acordo.
Mesmo no cenário com as atuais NDCs, se elas forem cumpridas nos nove países sob estritos compromissos de sustentabilidade, já haveria uma redução no número de mortes: 5,8 milhões de vidas devido à melhoria na dieta, 1,2 milhões de vidas devido ao ar mais puro e 1,2 milhões de vidas devido ao aumento do exercício. A adoção do caminho mais ambicioso, com objetivos de saúde explícitos dentro das NDCs, poderia resultar em uma redução adicional de mortes anuais, da ordem de 462.000, 572.000 e 943.000 atribuíveis à poluição do ar, dieta ruim e sedentarismo, respectivamente. O número de mortes evitadas em cada área foram modeladas separadamente e não devem ser somadas, já que não se pode contabilizar o cruzamento de mortes potenciais evitadas.
COP26: oportunidade para a Saúde
Pelas regras do Acordo de Paris, todos os signatários devem atualizar suas NDCs de modo que elas se tornem progressivamente mais ambiciosas. Seis dos nove países incluídos no estudo ainda não anunciaram suas revisões, enquanto o Brasil apresentou em novembro de 2020 uma NDC que na prática diminui as ambições climáticas das metas anteriores. Por essa razão, o país foi excluído da Cúpula de Ambição Climática da ONU realizada em formato virtual sob a liderança do Reino Unido em lugar da COP26, que foi adiada para novembro de 2021.
Os autores enfatizam que as vidas salvas por meio de uma melhor dieta, ar mais limpo e mais exercício fornecem mais uma razão para o fortalecimento dos compromissos de Paris. “Ao contrário dos benefícios diretos da mitigação do carbono que são, em última instância, de longo prazo e compreendidos em termos de limitação de danos, os co-benefícios para a saúde de políticas climáticas ambiciosas têm um impacto positivo imediato”, explica Ian Hamilton, autor principal do estudo e diretor executivo da The Lancet Countdown on Health and Climate Change.
Para ele, não só o cumprimento das metas de Paris evita que milhões de pessoas morram prematuramente a cada ano, mas a qualidade de vida de milhões a mais será sensivelmente maior. “Temos agora a oportunidade de colocar a saúde na vanguarda das políticas de mudança climática para salvar ainda mais vidas”, diz Hamilton.
“As conclusões do relatório constituem um incentivo importante não apenas para que os líderes mundiais cumpram seus compromissos climáticos, mas também para alinhar os objetivos ambientais e de saúde nos planos de recuperação pós-Covid-19. Afinal de contas, populações mais saudáveis se mostrarão mais resistentes a futuros choques de saúde”, escreveu Margaret Chan, ex-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) em artigo incluído no relatório. Ela também destacou a economia de recursos que seria alcançada com a melhoria geral da saúde da população, aliviando os custos da transição para uma economia de baixo carbono.
Alastair Brown, editor-chefe da The Lancet Planetary Health, afirma que como os países já estão sendo solicitados a aumentar seu nível de ambição antes da COP 26 em Glasgow, os próximos meses representam um momento-chave na luta contra a mudança climática. “Se há a necessidade de um prazo para motivar a ação dos países, nós temos: novembro de 2021”, em referência a data de realização do evento.
(ClimaInfo – #Envolverde)
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