Levantamento mostra que trs em cada quatro especialistas no enxergam que as mudanas feitas na indstria sejam suficientes para melhorar o meio ambiente
So Paulo A indstria da moda propaga que quer ser mais sustentvel. Mas, por enquanto, a mudana est apenas no discurso. o que aponta um estudo realizado pelas consultorias Future Impacts e 4CF e encomendado pelo Instituto C&A, com especialistas da indstria da moda. Para 75% deles, impossvel alcanar um impacto positivo no meio ambiente tendo em vista as atuais estratgias da indstria.
Nem mesmo os mais otimistas esperam mudanas no curto prazo. Os 25% que enxergam avanos de prticas sustentveis no setor acreditam que o real impacto s ser visto em 21,5 anos, em mdia.
O grande vilo desses nmeros o conceito de fast fashion. Criado pela varejista espanhola Zara e seguido por gigantes do setor, desde a britnica Primark at a brasileira Renner, passando pela holandesa C&A e a sueca H&M, o fast fashion conhecido pelo rpido (e efmero) lanamento de colees, alm de preos baixos e roupas de qualidade um tanto quanto duvidosa.
No toa, a moda considerada a segunda indstria que mais polui no mundo, atrs apenas do setor de leo & gs. No de se surpreender. O polister, fibra sinttica mais usada por todo o setor, por exemplo, demora 200 anos para se decompor na natureza. Para a produo do polister, so necessrios cerca de 70 milhes de barris de petrleo todos os anos.
A indstria reconhece que as coisas precisam mudar, diz o ingls Lee Alexander Risby, diretor de filantropia do Instituto C&A. As marcas e partes interessadas do setor tm um conjunto claro de aes para alcanar um impacto positivo.
Trabalhadores explorados
O problema que a mudana continua sendo lenta. A preocupao com o meio ambiente no recente, mas a adoo de prticas sustentveis por empresas comeou a ficar maior nos ltimos anos at por presso da sociedade e dos investidores.
Porm, um problema bem conhecido no setor e que exemplifica a lentido a m condio de trabalho, especialmente no incio da cadeia de produo. Seja na plantao do algodo ou na confeco das roupas em oficinas de costura, diversas empresas j foram apontadas como exploradoras de trabalho escravo no Brasil e no mundo. E o problema continua.
No por acaso, 62% dos entrevistados pela pesquisa acreditam que as medidas adotadas pela indstria no so suficientes para acabar com as ms condies de trabalho e a pobreza no setor. Mesmo os que enxergam mudanas acreditam que o problema s acabar, em mdia, nos prximos 12,7 anos.
Mas como mudar esse cenrio? Segundo o estudo, s com uma adoo radical de certos conceitos pela indstria e tambm pelos consumidores. Os mais importantes seriam uma maior conscientizao de fato da indstria (alm da propaganda, claro), adoo de tecidos mais amigos da natureza, a produo de relatrios de sustentabilidade cada vez mais detalhados e o respeito pelos direitos humanos dos trabalhadores em toda a cadeia de produo.
A receita no parece das mais complicadas. Mas para que isso acontea, de acordo com o levantamento, as maiores empresas do setor precisam aumentar a cooperao entre elas.
A mudana vai exigir um enorme esforo e cooperao das marcas, do governo e dos consumidores, diz Risby. A questo saber quando que o discurso realmente sair do papel e das propagandas para se tornar uma preocupao real de toda a indstria e dos prprios clientes.