Crianças brincam debaixo de jatos d’água em fonte enquanto se refrescam durante forte onda de calor na cidade de Nice, localizada na França – 26/06/2019 (Valery Hache/AFP)
POR – AVIV COMUNICAÇÃO / NEO MONDO
Desde o final de junho, a Europa registrou temperaturas altas recordes, o que pode se tornar mais frequentes nas próximas décadas caso o aquecimento global continue, de acordo com cientistas
Ondas de calor como a que afeta o continente europeu nos últimos dias podem se tornar cinco vezes mais frequentes nos próximos anos, o que pode ter impacto mortal sobre as condições de vida de milhões de pessoas.
De acordo com análise feita pelo World Weather Attribution, que reúne cientistas especializados na área de clima, as alterações nos padrões climáticos globais podem intensificar ondas de calor ao menos cinco vezes mais – potencialmente, elas podem se tornar até 100 vezes mais frequentes até o final deste século.
Mulher e criança se banham no Amager Strandpark – parque público à beira-mar localizado em Copenhague, capital da Dinamarca – 25/06/2019 (Nikolai Linares/Ritzau Scanpix/Reuters)
O estudo enfoca os impactos sobre a saúde, analisando a média de temperatura entre os dias 26 e 28 de junho e considerando duas escalas espaciais – a França como um todo, que vem sofrendo bastante com o calor neste começo de verão – e a cidade de Toulouse, no sul do país. As observações mostram um aumento substancial da temperatura em comparação com registros anteriores no mesmo período, cerca de 4 graus Celsius acima do que se esperaria em um cenário sem aquecimento global.
Além dos registros das temperaturas diárias, os cientistas também utilizaram modelos de computador para calcular as temperaturas esperadas em outras circunstâncias. A análise combinada de modelagem e observações aponta que, hoje, a ocorrência de ondas de calor é ao menos cinco vezes maior que no passado.
No ano passado, um estudo similar conduzido pelo mesmo grupo de cientistas apontou que as temperaturas altas no norte da Europa se tornaram ao menos duas vezes mais frequentes por conta da mudança do clima.
Cuidador joga água em elefante no zoológico de Berlim, localizado na Alemanha – 25/06/2019 (Annegret Hilse/Reuters)
“Nós experimentamos hoje uma onda de calor cuja intensidade pode se tornar o padrão normal até meados deste século”, diz o Dr. Robert Vautard, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. “Os novos recordes de temperatura reforçam a importância de ações urgentes de mitigação climática, para evitar que nossos termômetros registrem níveis acima dos 50 graus Celsius na França até o final deste século”.
Ondas de calor são fenômenos climáticos mortais, ainda que silenciosos. O risco é agravado pela mudança do clima, mas outros fatores podem resultar em um aumento de óbitos relacionados ao calor, como envelhecimento populacional, urbanização e mudanças sociais estruturais.
De acordo com Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Instituto Meteorológico Real da Holanda, tanto as observações como a modelagem apontam para uma tendência forte para intensificação de ondas de calor. No entanto, a tendência observada é mais forte que a modelada, o que reforça a preocupação dos cientistas com a questão. “Se a tendência observada nas ondas de calor continuar, episódios como o que vivemos no final de junho serão o normal mesmo sob um cenário de limitação do aquecimento global em até 2 graus Celsius, conforme definido pelo Acordo de Paris”.