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Por Adriano Queiroz, Agência Eco Nordeste –
Este início de 2021 em algumas cidades do interior nordestino já foi marcado por pequenos terremotos que despertaram curiosidade e em alguns casos preocupação dos moradores das áreas próximas aos epicentros. O mais forte deles foi registrado na última quarta-feira (3), em Jacobina, na Bahia. O sismo teve magnitude de 2.7 e foi o mais recente de uma sequência de tremores que vêm sendo registrados nas proximidades daquele município baiano desde dezembro do ano passado.
Já no Ceará, sismos de magnitude entre 1.1 a 2.2 atingiram municípios de diferentes regiões, tais como Massapê e Sobral, no norte cearense; e Chorozinho, na Região Metropolitana de Fortaleza. A propósito, foi no Estado que ocorreu o registro oficial de terremoto com maior magnitude na história do Nordeste.
Em 20 de novembro de 1980, a terra tremeu com força atingindo 5.2 na escala Richter, sendo sentida em Fortaleza e Natal. O epicentro foi na localidade de Brito, hoje pertencente ao município de Chorozinho, mas na época integrante do território de Pacajus. Nada menos que 488 residências foram atingidas, houve um número impreciso de feridos e, felizmente, nenhum óbito.
Embora com magnitude um pouco menor, 5.1, o terremoto de João Câmara, no Rio Grande do Norte, registrado no dia 30 de novembro de 1986, deixou um saldo de destruição ainda maior: 4 mil casas danificadas e um grande êxodo de pessoas. “A falha mais ativa e sísmica que existe no Nordeste fica nessa região. Na época dos maiores terremotos, as pessoas dormiam nas ruas porque tinham medo de que à noite as casas viessem abaixo”, conta o geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rubson Maia.
A propósito, é consenso entre sismólogos que o Nordeste é a região de maior atividade sísmica do Brasil. O registro mais antigo de terremoto da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) é de 10 de outubro de 1903 e foi feito no município cearense de Baturité, chegando à magnitude de 3.9. Em 2021, de 18 sismos medidos pela RSBR no Brasil, 14 ocorreram no Nordeste. No ano passado, por sua vez, de 246 terremotos com epicentro no País, 139 foram aqui, o que representa 56% do total.
Apesar disso, o maior terremoto registrado em território brasileiro ocorreu no estado de Mato Grosso. Em 1955, o município de Porto dos Gaúchos foi sacudido por um sismo de 6.2 graus. No mesmo ano, a cidade de Vitória (ES) registrou outro terremoto de 6.1 graus. Não houve registro de mortes em nenhum dos dois episódios. A única morte registrada no Brasil decorrente de atividade sísmica ocorreu em Itacarambi (MG), em 2007, após um tremor de magnitude 4.9.
Já em 2021, chamou a atenção popular um terremoto de 5.7 graus, com epicentro na Guiana, mas sentido em Roraima e no Amazonas.
Porque o Nordeste
A alta sismicidade nordestina pode ser explicada em parte por forças tectônicas gigantescas que atuam nesse momento na placa Sul-Americana, mas também por fenômenos que ocorreram antes da separação Brasil-África ocorrida há cerca de 105 milhões de anos.
“Nós temos no Nordeste uma densidade de fraturas muito elevada e tensões que estão se acumulando na crosta. Ou seja, você tem um contexto ideal para terremotos, mesmo considerando que nós não somos uma margem ativa, como é a costa do Chile, e que nós estamos no centro de uma placa tectônica”, explica Rubson Maia.
A propósito, vale explicar a diferença entre placas, falhas e fraturas. A crosta terrestre, que é uma camada rochosa relativamente fina, não é uniforme e apresenta uma série de divisões. As maiores e mais conhecidas são as placas tectônicas, gigantescos blocos de rocha de proporções continentais e que estão em lenta, mas constante movimentação sobre uma camada de magma (lava vulcânica), chamada de manto.
Por sua vez, as falhas são rupturas de blocos de rocha de uma placa tectônica, que geralmente se manifestam em faixas estreitas da superfície. No Nordeste, a falha mais extensa é conhecida como Samambaia e atravessa parte do território do Rio Grande do Norte, tendo cerca de 38 Km de extensão e em média 4 Km de largura. Já as fraturas são quaisquer quebras de blocos de rocha, mesmo que esses não se manifestem na superfície e estejam, por vezes situadas em pontos profundos da crosta.
Em comum, onde há um dos dois fenômenos geológicos (ou ambos) a atividade sísmica costuma ser maior. O principal desencadeador de um terremoto, contudo, é a liberação de tensão acumulada na crosta por conta dos movimentos das placas. No caso da placa Sul-Americana, há dois movimentos principais: um na direção leste-oeste, que ao mesmo tempo nos afasta da África e nos faz colidir com a placa do Pacífico, e outro no sentido norte-sul.
O geógrafo Rubson Maia, faz uma analogia para explicar melhor como as diferentes forças envolvidas nesse movimento da placa podem resultar em sismos: “Vamos supor que que você deseje tirar o sofá do lugar. Daí você aplica uma determinada quantidade de força e o sofá não sai do lugar, mas, com aquela força que você está aplicando, o sofá está acumulando tensão. Então, o que acontece? Quando a força que você aplica for maior que esse coeficiente de atrito do sofá com o piso, ele sairá do lugar”.
“A mesma coisa acontece com a crosta. Ela está acumulando tensão a todo momento porque a placa está migrando e essa tensão será liberada em forma de terremoto quando for maior que o coeficiente de atrito das falhas ou fraturas”, conclui.
#Envolverde
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Fonte