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O desafio para o processo civilizatório é garantir à sociedade e às pessoas a capacidade de discernimento para que suas decisões se baseiem na melhor informação disponível, e não em boatos e mentiras
A transformação do universo da mídia nos últimos 50 anos tem ajudado a provocar distorções na percepção social da notícia. Os meios de comunicação se diversificaram e passaram a oferecer muitas versões sobre os mesmos fatos, perspectivas e olhares que ao invés de ampliar a visão consciente da realidade, ao contrário, deixaram a sociedade em um torpor em que a negação da realidade se torna mais confortável e, abraçar a versão que mais de coaduna com seu modo de pensar passa a ser o caminho mais fácil.
Para além dos meios tradicionais de notícias, rádio, TV, mídia impressa e internet, o que já seria muito, a partir deste século entram em campo as plataformas de mídias sociais com seu amplo alcance e algoritmos que a partir de critérios subjetivos redirecionam as notícias para grupos de internautas a partir de suas opiniões pré-concebidas e reforçadas por bolhas de pessoas que tem a mesma percepção da realidade.
As redes sociais funcionam como um amplificador do que se quer ver/ler/ouvir. Não privilegiam a diversidade para que as pessoas possam tomar decisões a partir de uma cesta de conteúdos. Pelo contrário, reforçam exatamente aquilo que as pessoas preferem acreditar. As interferências nesse contexto de bolha são sempre vistas com excentricidades e minorias, sendo ignoradas ou ferozmente combatidas.
Há que se alinhar a esse cenário de manipulação de conteúdos a partir de bolhas ideológicas o fato de que o Brasil é um país com índices de leitura de meios de imprensa e livros muito abaixo da média global. Com isso se forma uma população que não detém grande parte dos conhecimentos necessários para uma visão crítica de tomas relevantes do cotidiano, como política, economia, cultura, diversidade, desigualdade e outros que formam a base das sociedades em evolução.
Segundo pesquisa da equipe da Biblioteca Villa Lobos, o país que mais lê no mundo é a Índia, que ocupa essa distinção desde 2005. Os indianos dedicam, em média, 10 horas e 42 minutos semanais para ler. Os seguintes três postos também são ocupados por países da Ásia: Tailândia, China e Filipinas. Já o quinto é, notavelmente, o Egito. Depois vem a República Tcheca, seguida da Rússia e da Suécia, que se encontra empatada com a França. Depois vem a Hungria, empatada com a Arábia Saudita. Quanto à América Latina, o país mais leitor é a Venezuela, no 14º lugar. Depois vem Argentina (18º), México (25º) e Brasil (27º) com médias de leitura que rondam menos da metade de tempo que dedicam na Índia.
Retomada do processo Civilizatório
A manipulação das notícias e o direcionamento da opinião pública não é novidade e nem um fruto da tecnologia do século 21. Acontece desde sempre e se sustenta na fragilidade cultural e moral das sociedades. Acontece nato em ditaduras como em democracias. Não foi difícil para a máquina de propaganda nazista jogar a culpa das mazelas do país sobre os judeus e criar o Holocausto. Do outro lado do Atlântico, na democrática América, um senador obscuro do Wisconsin, Joseph McCarthy, aproveitou a onda anticomunista do pós guerra e liderou uma agressiva campanha contra milhares de norte-americanos sob a acusação de “comunismo”. A essa caça às bruxas foi dado o nome de macarthismo e logo muitos meios de comunicação aderiram, ou por crença, ou por covardia. O principal alvo das suspeitas eram funcionários públicos, trabalhadores da indústria do entretenimento, educadores e sindicalistas. McCarthy reinou por anos aterrorizando seus desafetos com investigações tendenciosas e se agarrando a um conceito de patriotismo que lhe servia de escudo e lança.
O jornalismo profissional teve um papel importante na ascensão e queda do macartismo. Parte dessa história pode ser conhecida através do filme Dentre estes destaca-se Boa Noite e Boa Sorte dirigido por George Clooney e estrelado por David Strathairn, no papel do jornalista Edward R. Murrow. O filme narra os embates entre o jornalista e o Senador McCarthy, durante os anos 1950, que contribuíram na decadência do senador.
O embate entre o jornalismo profissional e a indústria de boatos e mentiras se dá em diversos fronts, inclusive dentro de veículos de imprensa que deveriam manter uma rígida delimitação de espaços. Há muita dificuldade, em sociedades democráticas, em atuar na zona cinzenta que separa o fato da ficção e a versão honesta da interpretação tendenciosa. Nem tudo é preto no branco. O desafio para o processo civilizatório é oferecer à sociedade a capacidade de discernimento para que suas decisões se baseiem na melhor informação possível, e não em boatos e mentiras.
Aí chegamos ao ponto, nossos sistemas educacionais ainda não estão preparados para atuar no que se convencionou chamar “educação midiática”. Dar às pessoas a capacidade de caminhar no labirinto de informações sem tropeçar em mentiras ou ser afogadas em sofismas através de argumentos concebidos para produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta uma estrutura deliberadamente enganosa.
As redes sociais estão repletas de sofismas, que são muto mais difíceis de desconstruir do que a mentira pura e simples. O sofisma se agarra à vontade de acreditar e sua estrutura ambígua joga de um lado com crenças pré-concebidas e preconceitos e, por outro, com o despreparo da sociedade para desconstruí-lo.
Garantir que as pessoas tenham a capacidade de buscar no ecossistema informacional a melhor informação para basear suas decisões é uma das tarefas primordiais dos professores e jornalistas no presente e, para sempre. A sociedade precisa do bom jornalismo para avançar em múltiplas frentes. Mas também precisa de Instrumentos fáceis e acessíveis de verificação de fatos e opiniões.
A independência e a autodeterminação das pessoas apenas podem existir se cada um for capaz de transitar pela realidade sem o permanente risco de ser enganado por estruturas manipuladas de mídia e redes sociais.
(#Envolverde)
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Fonte