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Isolamento social, famílias dentro de casa e dificuldades financeiras são fatores que, juntos, favorecem o aumento dos casos de violência doméstica. No Brasil, país em que uma mulher é agredida a cada 4 minutos, esse cenário torna-se ainda mais complicado. Em meio à pandemia do novo coronavírus, a promotora de Justiça de São Paulo Gabriela Manssur criou o projeto Justiceiras, que reúne 700 voluntárias com o objetivo de acolher e orientar as vítimas durante a quarentena.
A iniciativa oferece apoio gratuito e online, por meio do WhatsApp (11 99639-1212), a qualquer mulher que tenha sofrido violência doméstica ou tenha sido ameaçada pelo companheiro. Para isso, o movimento conta com 700 voluntárias da área jurídica, psicológica, socioassistencial, médica e para a rede de apoio.
Essas mulheres foram selecionadas após preencherem um questionário e também pelos termos dos conselhos profissionais, como CRP (Conselho Regional de Psicologia) e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). As que por algum motivo não tinham as inscrições, como estagiárias ou recém-formadas, e aquelas que não eram das formações solicitadas, foram deslocadas para a função de acolhimento.
De acordo com Manssur, a ideia do projeto é eliminar a dificuldade no deslocamento para buscar ajuda e contribuir com as informações necessárias para que a mulher possa denunciar o agressor. “É um trabalho para informá-las e orientá-las. Afinal, as vítimas de violência estão em quarentena, dentro de casa, vigiadas pelo agressor e precisam de respostas para as perguntas mais básicas. O que fazer? Quem procurar? Quais locais ela deve se dirigir? Conseguem resolver sem sair de casa?”, afirma a promotora à Catraca Livre.
Para solicitar ajuda, a vítima entrará em contato pelo número do WhatsApp, preencherá um formulário com suas necessidade e o apoio que procura. Em seguida, ela será encaminhada para uma voluntária especializada. Caso ela identifique outro tipo de ajuda necessária, a profissional solicitará orientação da líder de outras especialidades para oferecer o atendimento da forma mais adequada e rápida. “Dessa forma a gente forma uma grande rede de apoio para essa mulher passar por todos os atendimentos multidisciplinares”, ressalta a promotora.
“Esse período despertou em muitas pessoas a vontade de ajudar, um sentimento de generosidade e solidariedade com o próximo. E o Justiceiras é uma rede de mulheres unidas para informar e, antes mais nada, fortalecer e encorajar as que estão em situação de violência doméstica”, ressalta.
Nessa primeira parte do projeto, em apenas duas semanas, já foram atendidas mais de 100 mulheres pelo número do WhatsApp. Ainda não há devolutiva sobre o número de vítimas que teria realizado a denúncia, pois as voluntárias ainda deverão preencher uma ficha sobre cada acolhimento. “Hoje, teve uma vítima que foi encaminha para a Casa da Mulher Brasileira para fazer a denúncia, mas não tive a devolutiva ainda se ocorreu ou não a denúncia”, ressalta.
“Nós já temos em várias cidades boletim de ocorrência online, e eu já fiz um fluxograma de orientação para as voluntarias de como abri-lo, em caso de necessidade. Ainda não temos esse dado das vítimas que denunciaram o agressor, mas já temos essa possibilidade aberta e com certeza teremos muitas que irão denunciar”, explica.
Violência doméstica e quarentena
A promotora de Justiça reitera que o número de mulheres que sofrem violência aumentou consideravelmente durante a quarentena devido à tensão do momento, ao alto estresse dentro da família e ao isolamento. No entanto, esses casos já são preexistentes na relação do agressor com a vítima, e não surgiram apenas neste período.
Segundo Manssur, as mulheres isoladas muitas vezes não têm para onde ir e acabam permanecendo dentro de casa, vigiadas pelo agressor. Ela lembra um caso que chegou ao projeto, de uma vítima que tinha até horário específico para usar o telefone, sendo que o companheiro estava próximo a ela, alcoolizado.
“Ela precisa de perguntas mais básicas sobre o que fazer, quem procurar, que local deve se dirigir. Muitas mulheres na quarentena têm dificuldade em procurar ajuda pela dificuldade em se deslocar. As vezes tudo o que elas mais precisam é de um apoio e de acolhimento”, finaliza.
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