Passar por consulta ginecológica não é algo muito agradável para muitas mulheres. A vergonha em falar sobre sua intimidade e expor o corpo colaboram para esse desconforto. E ainda existem pacientes que ficam inseguras por algum trauma de experiências anteriores ou por não saberem diferenciar uma consulta comum de procedimentos que extrapolam a ética médica.
Recentemente, a conduta criminosa do médico José Hilson Paiva, que atuava como ginecologista no Ceará, veio à tona com uma série de denúncias de abuso sexual de suas pacientes.
Relatos parecidos afirmavam que, durante consultas, ele colocava os seios delas na boca e sugava sob o pretexto de identificar se havia secreção nas mamas e também as viravam de costas para a realização de exames. Procedimentos que fogem da prática médica comum.
De acordo com a médica Regina Marquezine Chammes, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), ao se sentir desconfortável ou suspeitar que a consulta esteja fugindo do normal, a paciente deve pedir para que o ginecologista interrompa imediatamente o procedimento. “Ela tem todo o direito de fazer isso”, afirma.
“Se o médico está encostando alguma parte do corpo dele na paciente ou fazendo algum movimento, está errado”, explica a médica.
Embora não exista nenhuma recomendação do Conselho Federal de Medicina que obrigue a presença de um acompanhante durante o exame ginecológico, é recomendável e um direito da mulher decidir por isso. “Como trata-se de um exame mais íntimo, seria ideal que as clínicas dispusessem de uma funcionária para auxiliar o médico durante a realização de exames para evitar problemas nesse sentido, mas a paciente também pode levar um acompanhante, se quiser”, explica a médica do Cremesp.
Mas como saber se a conduta do médico ginecologista está dentro do esperado ou foge do padrão?
A rotina de cada médico é muito individualizada, mas de modo geral, toda paciente que passa por consulta ginecológica de rotina costuma ser submetida aos seguintes procedimentos:
Anamnese
É uma entrevista que o médico faz com a paciente para saber como ela está, se está apresentando algum sintoma, se está fazendo uso de alguma medicação. Depois disso, ele deve explicar todos os procedimentos a que ela será submetida. Deve ser uma conversa franca antes de começar o exame físico.
Palpação das mamas
O médico utiliza as mãos para analisar as mamas e identificar possíveis nódulos. Normalmente, a paciente fica vestida com uma camisola ou avental e só na hora do exame é que o médico expõe as mamas. Esse tipo de análise tem fundamental importância para a detecção precoce do câncer de mama.
Inspeção da região da vulva
Com a mulher deitada em posição ginecológica, com as pernas apoiadas em um suporte, o médico faz a observação da parte externa da vagina, a chamada vulva, para ver se não existe nenhuma lesão nos grandes lábios. É uma inspeção rápida. Não há necessidade de a paciente estar totalmente despida, ela deve estar com a parte de cima coberta pela camisola ou avental.
Colposcopia
Ainda com a paciente em posição ginecológica, o médico utiliza um espéculo vaginal (aparelho que lembra um bico de papagaio), para fazer a abertura do canal vaginal e visualizar o interior da vagina e do colo do útero. Tudo isso deve ser feito com a higiene adequada e utilização de luvas. Não deve existir nenhuma manipulação extra por parte do médico.
Papanicolau
Este exame é feito no mesmo momento da colposcopia e serve para realizar a coleta de uma amostra de células do colo do útero para análise em laboratório. Para isso, é utilizada uma espátula e uma cerda.
A duração desses exames é muito variável, de acordo com a médica Regina Marquezine. “Tem ginecologistas que demoram mais e outros que são mais rápidos, então, não dá para instituir um tempo”, afirma. “Há ainda alguns médicos que gostam de fazer a escuta cardíaca , medir a pressão e palpar o abdômen, principalmente, se a paciente tiver sentindo alguma dor pélvica”, explica a médica.
Toque vaginal e palpação abdominal
Neste caso, o médico pode introduzir dois dedos na vagina para empurrar o colo do útero para cima e, com a outra mão no abdômen da paciente, consegue palpar os anexos e até o útero. O exame pode ser desconfortável, mas é importante para ajudar no diagnóstico de miomas, cistos, endometriose, alteração no volume dos ovários e forma irregular do útero.
Denúncia em caso de assédio
Caso aconteça algum abuso por parte do ginecologista, a paciente deve fazer um boletim de ocorrência para que a esfera judicial se encarregue de apreciar esse fato. Após isso, a vítima também deve fazer uma denúncia no Conselho Regional de Medicina de seu estado para que o exercício profissional desse médico seja avaliado.
Como escolher um ginecologista com segurança
A primeira orientação para escolher um/uma ginecologista com segurança é procurar o nome do profissional no Conselho Regional de Medicina do estado em que a paciente se encontra. “Dessa forma, é possível saber se a ginecologia ou obstetrícia é realmente sua especialidade. Essa é a primeira garantia que a paciente terá se ele é um profissional capacitado”, explica Regina Chammes. A médica também aconselha que a paciente busque por um profissional recomendado por alguém que ela conheça. “É muito importante ter uma referência desse médico”, afirma.