Um estudo mostrou que os brasileiros que fazem uso de antidepressivos cresceu 23% em 4 anos, de 2014 a 2018. Esse aumento contraria a tendência de consumo geral de medicamentos, que teve queda de 5% nesse período.
De acordo com a pesquisa realizada pela empresa Funcional Health Tech, com 327 mil pessoas de diferentes cidades do país, são as mulheres acima de 40 anos as que mais consomem antidepressivos.
Para o psicólogo Leonardo Abrahão, isso é compreensível dado a tantas exigências e limitações impostas às mulheres. “Se nós olharmos as dimensões psicológicas e sociológicas às quais as mulheres estão submetidas, nós vamos compreender que o mundo não é saudável, nem respeitoso para com a saúde mental das mulheres”, afirma.
“São tantas as questões relacionais, sociais, culturais que se impõem de maneira repressiva ou castradora sobre elas, dentro e fora dos casamentos, que é compreensível o fato de após os 40 anos esse acúmulo de questões se desdobrarem em adoecimentos emocionais e psíquicos e se transformarem em dores”, explica o especialista.
Janeiro Branco
Para Abrahão, os cuidados com a saúde mental são tão importantes quanto à atenção que damos à saúde física. Há cinco anos, ele organiza a campanha Janeiro Branco, que convida as pessoas a refletirem sobre a qualidade dos seus relacionamentos e o quanto elas conhecem sobre si mesmas, suas emoções, seus pensamentos e comportamentos.
A escolha do mês da campanha, segundo ele, é estratégica, já que esse período de início de ano é marcado por reflexão e planos e costuma ser também o momento em as pessoas mais se sentem ansiosas para cumprir metas.
“As pessoas possuem uma relação simbólica muito interessante com janeiro, é o mês em que elas mais param para pensar e avaliar sobre suas próprias vidas por causa da carga simbólica da virada de ano. É como se abrisse um novo horizonte”, acredita.
Dessa forma, a campanha, que tem como slogan a frase “quem cuida da mente, cuida da vida”, serve como um convite para a reflexão.
Além de levar o tema para as redes sociais e veículos de comunicação, o Janeiro Branco promove palestras, rodas de conversas e distribuição de folhetos informativos em diversas cidades do Brasil. A ideia é mobilizar profissionais de saúde, cidadãos e chamar atenção das autoridades para a criação de políticas públicas de cuidado com a saúde mental.
Depressão no Brasil e no mundo
Na América Latina, a segunda maior prevalência de depressão ocorre no Brasil, correspondendo a 5,8% da população, ou seja 11,5 milhões de pessoas, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No mundo todo, são 322 milhões de pessoas convivendo com a doença.
A ansiedade também avança a passos largos, e o Brasil é considerado o país campeão nesse tipo de distúrbio. Segundo estimativa da OMS, são 18,6 milhões de brasileiros diagnosticados com transtorno de ansiedade.
Apesar de os números assustarem, o preconceito e o estigma ainda são grandes, o que dificulta muito a procura por ajuda.
Para o psicólogo Leonardo Abrahão, ainda vivemos na pré-história dos entendimentos e dos cuidados com a saúde mental. “Nós somos seres modernos ou pós-modernos em relação à tecnologia e com os aspectos materiais e objetivos da vida, mas, em relação às nossas necessidades subjetivas e psicológicas, nós ainda somos homens primitivos”, afirma.
|”Ainda não nos respeitamos, não consideramos, não entendemos e não nos esforçamos em cuidar de tudo que diz respeito às nossas necessidades mentais, emocionais, sentimentais, psicológicas e subjetivas. A saúde mental ainda não ocupa , no contexto das preocupações da humanidade, uma importância de destaque. Ela é sempre relegada a outros planos, é sempre negligenciada e tratada como algo menor, algo desimportante. E, aí, por conta disso, estamos pagando altos preços”.
- Se você sofre com depressão, crises de ansiedade ou qualquer outro distúrbio de ordem psíquica, não tenha vergonha, procure um CAPS (centro de Atenção Psicossocial) mais próximo. Pessoas de todas as idades podem ser atendidas a partir de encaminhamento clínico ou busca espontânea. Saiba mais aqui.
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