Foto ; Charles Platiau/Reuters
POR – AVIV COMUNICAÇÃO / NEO MONDO
A intensificação do calor durante os meses de verão no continente europeu nos últimos anos tem sido apontada como uma das consequências já concretas da mudança do clima
Os europeus estão se acostumando com verões cada vez mais quentes, com temperaturas médias superando a casa dos 40 graus Celsius. A intensificação do calor tem sido uma marca dos verões do continente no século XX: as cinco temporadas de calor mais quente já registradas na Europa desde o século XVI aconteceram depois do ano 2000 – 2018, 2010, 2003, 2016 e 2002.
Neste ano, a expectativa é de que o calor seja ainda mais intenso no verão europeu, o que vem gerando alertas de saúde pública por parte de autoridades locais. De acordo com o escritório meteorológico francês, Meteo-France, as temperaturas podem chegar a quase 40 graus Celsius em Paris e Lyon durante o dia nesta primeira semana do verão de 2019, com temperaturas noturnas girando na casa dos 20 graus. A mesma coisa acontece na Alemanha e na Espanha, onde os governos nacionais emitiram alertas à população para se preparar para temperaturas acima de 40 graus ao longo dos próximos dias.
De acordo com especialistas, a onda de calor que atinge a Europa neste começo de verão é resultado do mesmo fenômeno meteorológico que causou temperaturas altas recordes no verão passado no continente – uma área de alta pressão sobre a porção leste do Oceano Atlântico, que impede a passagem de ar mais fresco do norte. Esse tipo de fenômeno pode ficar mais frequente nos próximos anos por conta da mudança do clima. Um estudo recente apontou que os recordes de temperatura alta no hemisfério norte no verão de 2018 seriam inviáveis sem a elevação da temperatura média do planeta causada pelas emissões de gases de efeito estufa resultantes da ação humana.
Segundo o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês), a relação entre mudança do clima e ondas de calor está clara. Desde a segunda metade do século XX, a frequência e a intensidade de temperaturas extremas vem crescendo e a influência humana mais que dobrou a probabilidade de ondas de calor em certos locais do planeta. Os impactos das ondas de calor revelam vulnerabilidade significativa e exposição dos humanos à mudança do clima, especialmente por parte das crianças e dos idosos.
A intensificação do calor afeta diretamente a saúde pública. Na França, cerca de 1,5 mil óbitos registrados no verão passado podem ser associados a efeitos da alta temperatura. Do outro lado do mundo, no Japão, outro estudo apontou que mais de mil mortes teriam sido evitadas se não houvesse mudança do clima.
“A mudança do clima está tornando comum verões com altas temperaturas na Europa”, aponta Friederike Otto, diretora do Environmental Change Institute (ECI) da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “As ondas de calor são mais intensas e ocorrem com mais frequências. Se não cortarmos drástica e rapidamente as emissões de gases de efeito estufa, essas ondas vão se tornar ainda mais perigosas, afetando os idosos, as crianças e outros grupos vulneráveis”.
De toda forma, segundo Otto, é importante que os governos europeus atuem desde já para adaptar melhor as cidades e as habitações para um cenário de calor mais intenso nos verões. “Precisamos nos adaptar hoje, alertar as pessoas e implementar planos de ação”, diz a pesquisadora.
Se o cenário na Europa é preocupante, a situação em outras regiões no hemisfério norte é assustadora. “Enquanto na Europa a gente se preocupa com a temperatura atingindo 40oC nesta semana, tivemos temperaturas acima dos 50oC recentemente na Índia”, argumenta Stefan Rahmstorf, professor da Universidade de Potsdam, na Alemanha. “Ondas de calor podem impactar fortemente as sociedade, levando a mortes adicionais em grupos vulneráveis, e a combinação de condições quentes e secas pode resultar em escassez de água e perdas de colheita”.
Entre 2010 e 2017, a União Europeia teve perdas econômicas de 13 bilhões de euros decorrentes de eventos climáticos extremos. No ano passado, as altas temperaturas e o ar seco resultaram em incêndios florestais na Espanha, Grécia, Noruega, Portugal, Reino Unido e Suécia, causando centenas de mortes