Provavelmente, em algum momento entre seu nascimento e o dia de hoje, te disseram que não dava pra ter tudo nessa vida. E espero, pelo seu bem, que você tenha acreditado. Não dá pra ter tudo, porque toda escolha é uma renúncia.
Eu posso escolher passar um mês viajando pela Europa, mas isso significa que vou gastar uma bela grana. Não dá pra escolher passar um mês na Europa e ainda assim ter a conta bancária rechonchuda. Pelo menos não para os meros mortais.
Do mesmo jeito, gostaria que as pessoas entendessem que não dá pra ter o corpo dos sonhos e uma vida. Primeiro porque o corpo dos sonhos não existe. Pelo menos não no mundo real. É um corpo que pode ser imaginado, idealizado, comparado… Mas dificilmente será alcançado.
Você pode até enxergar o corpo dos seus sonhos em outros corpos. O difícil é trazer esse sonho pra si. Nosso olhar é muito crítico para nós mesmos. Sempre vai ter algo que pode melhorar aqui, uma gordurinha que pode sumir ali, um músculo que pode aparecer mais acolá.
E assim, muita gente vai perdendo vida em troca de um corpo inalcançável.
“Ah, falta só x % de gordura pra eu perder – vou ficar mais um mês sem carboidrato.”
“Estou inchado, inflamado, acho que se eu tirar o glúten, a lactose e os refinados do meu dia a dia, essa sensação melhora.”
“Preciso ganhar mais massa magra, vou comer 8 ovos por dia, mais meio kilo de frango e malhar 12 horas por semana.”
“Faltam 3 semanas para a viagem, vou cortar o álcool, carne vermelha, frutas e qualquer tipo de farinha branca até lá.”
E com isso, os almoços com a equipe são trocados por marmitas solitárias numa copa com cheiro de micro-ondas. Os vinhos e bons drinks com as amigas são trocados por chá de hibisco gelado, ou até água, limão e gratidão. A macarronada da vovó é substituída pela salada sem azeite, e a pizza de domingo fica só nas lembranças. Ou nos sonhos. Às vezes, a restrição é tanta que a galera até sonha.
É por isso que eu digo, esses quilinhos aí – que talvez estejam incomodando e que sobraram das últimas férias ou da gravidez e te impedem de entrar na minissaia que você usava durante a faculdade – são a sua vida.
São as risadas que você deu em volta de uma mesa, são a massa de bolo crua comida com as crianças, são as batatas fritas mergulhadas no sorvete, a pizza saboreada com a mão enquanto maratonava Netflix. Esses quilos são sua sobremesa preferida, aquela cervejinha gelada no fim de um dia difícil, os brigadeiros e coxinhas das festas de criança…
Eles são a sua vida, e a sua vida vale muito mais do que qualquer barriga tanquinho.
Texto escrito pela Nutricionista Luiza Mattar, idealizadora da plataforma digital @oquehouvecomacouve