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Durante a quarentena imposta pelo novo coronavírus (covid-19), as viagens tiveram que ser colocadas em pausa. Porém, gastronomicamente, estamos cobertos: ainda dá para conhecer muitas comidinhas e bebidas típicas de vários países via delivery.
Muitos aplicativos e sites de e-commerce de bebidas entregam, por exemplo, cervejas de qualquer canto do planeta, de todos os estilos, e fica até fácil manter hábitos cervejeiros desbravadores sem sair do sofá.
“Assim como o vinho representa muito sobre a sociedade de certos países, a cerveja também tem um papel que traduz a cultura e a gastronomia de outros”, explica a sommelier de cervejas Luísa Dalcin, do site de gastronomia Comer e Beber pelo Mundo, que indica cervejarias e restaurantes no Brasil e em outros países.
“Conhecer cada escola cervejeira é entender o modo de consumo daquela sociedade, da história da bebida naquela região.”
Por isso, Luísa criou uma lista de volta ao mundo em 12 cervejas –todas elas disponíveis para venda em sites especializados e entrega para todo o Brasil.
A começar pela Escola Alemã, a mais purista de todas quando falamos em fabricação de cerveja. Purista mesmo, já que eles produzem a bebida respeitando a Lei de Pureza criada em 1516, vigente até hoje e pouco alterada. Essa lei restringe o uso de outros ingredientes além dos estritamente necessários para sua produção: água, malte, lúpulo e levedura.
Da Escola Alemã, consumimos aqui no Brasil especialmente as lagers claras (como a Munique Helles e as Pilsners), escuras (como a Dunkel) e as Weissbier, estilo feito com malte de trigo que a cervejaria Paulaner popularizou no Brasil.
Além da Paulaner, outra boa representante é a Hofbräu, que tem uma weiss tradicional e uma dunkel muito saborosa. “Além disso, eles tem uma Hofbräuhaus em Belo Horizonte, um bar típico alemão que proporciona a experiência mais próxima dos galpões cervejeiros de Munique que você vai ter no Brasil.”
Depois, chegamos em mais uma escola cervejeira: a britânica. Aqui, surgiram as Pale Ale (incluindo a India Pale Ale, que hoje é quase uma marca registrada das receitas lupuladas da Escola Americana) e as Porters –essas sim, estampam a cara dos pubs do Reino Unido.
Nesse quesito, não há dúvidas. Todo mundo já ouviu falar na Guinness, né? “Das cervejas irlandesas, também gosto muito da Murphy’s, tanto a Stout quanto a Irish Red Ale, mas a verdade é que a Guinness, além de ser mais fácil de encontrar no Brasil, é muito mais icônica. É um patrimônio da Irlanda”, comenta Luísa.
Ainda no Reino Unido, há algumas nuances interessantes. As Scotch Ales, por exemplo, são cervejas escocesas completamente diferentes das Pale Ales e das Porters que caracterizam a escola britânica. “São cervejas acobreadas de perfil muito mais maltado que as britânicas mais conhecidas, quase caramelado. Elas apresentam menos lúpulo, ou seja, menos amargor, e mais teor alcoólico, devido à doçura e à quantidade de malte”, explica a sommelier.
A Tennent’s Scotch Ale, feita em Glasgow, é bem fácil de encontrar por aqui em lojas especializadas. Se puder, vá também na Bodebrown Wee Heavy, da cervejaria paranaense. As Wee Heavy, também conhecidas como Strong Scotch Ale, são a potência máxima desse estilo.
Andando mais um pouco, uma constatação: é muito difícil escolher uma só cerveja belga para essa volta ao mundo. A Bélgica é o paraíso dos cervejeiros: centenas de cervejarias (sendo boa parte delas tradicionalíssima, com séculos de história), bares com mais de mil rótulos e abadias espalhadas pelo interior do país, servindo cerveja local com uma riqueza de sabores impressionante.
“A escola belga é, digamos assim, a menos ‘fresca’ das escolas”, brinca Luísa. Fermentação em tanques abertos, uso de ingredientes como frutas e temperos, tudo isso começou lá, gerando cervejas mais complexas, mais aromáticas, mais maltadas e mais alcoólicas.
Por aqui, é comum encontrar a trapista Chimay nos mercados, mas a escolha dessa viagem foi a Rochefort 8, uma Belgian Strong Dark Ale encorpada e bem maltada, com 9% de álcool. As Rochefort, também disponíveis nos estilos Dubbel (6) e Quadrupel (10), são cervejas trapistas autênticas, com alma, produzidas em um mosteiro desde o século 16 apenas para a sobrevivência dos monges e atos beneficentes. É a cerveja mais cara da lista, certamente, mas vale a pena.
Chegamos na mais jovenzinha das escolas, a Americana. Ela vem com mais firula, mais experimentação e muito mais lúpulo, e passou a ser considerada uma escola cervejeira recentemente, devido ao boom enorme de produção de cerveja por aquelas bandas nas últimas décadas.
A coisa toda começou com a produção da nossa velha conhecida American Lager, a cerveja “comum”, levinha. Os americanos criaram uma versão mais barata e acessível da lager tradicional alemã e, para isso, precisaram substituir parte do malte por cereais não maltados, como milho e arroz. E essa bebida virou o chopinho do happy hour, do churrasco, que muita gente chama erroneamente de Pilsen. “Uma pilsen de verdade é puro malte, de amargor mais presente, e não é ‘levinha’ como as cervejas comerciais˜, explica.
Conforme o tempo foi passando, os americanos saíram da cola alemã e passaram a se inspirar mais nos britânicos, intensificando as APAs e IPAs, que foram ficando mais cítricas e lupuladas na América. A cada variação na receita, um nome: surgiram as as Juicy IPAs, as West Cost IPA, as Hazy IPA…
As cervejas da Anchor Brewing, de São Francisco, que podem ser encontradas em lojas especializadas por aqui, são consideradas pioneiras no país e no continente. A cervejaria existe desde 1986 e faz cerveja ainda hoje nos moldes tradicionais, tendo tido participação importantíssima nesse fenômeno de cervejarias artesanais.
O mercado cervejeiro do Brasil abraçou o americano como inspiração tanto nas cervejas comerciais (que são, no geral, American Lager) quanto nas artesanais, que apostam muito no lúpulo e nos sabores potentes. Já na misturança, nossa inspiração é belga: é comum ver artesanais por aqui com café, rapadura, temperos e frutas como caju, goiaba, graviola e maracujá adicionadas nas Sour, estilo azedinho que também começou na Bélgica.
A Café Lager da mineira Ouropretana é uma das Lagers brasileiras inspiradas no mercado americano. É uma California Common (estilo de lager que fermenta a temperaturas mais altas, processo que é mais comum com as ales) feita com café mineiro, da fazenda Uaimíi.
Já a Maracujipa, da cervejaria carioca 2Cabeças, é uma American IPA bem tropical, com muita presença de lúpulo, mas refrescante na medida com a adição de polpa de Maracujá.
Se pensarmos nas cervejas mais gostosas que podemos conhecer, a imagem mais óbvia que vem à cabeça é justo a desses países que acabamos de mostrar: Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Irlanda… mas tem muita cerveja boa no Oriente, nossa próxima parada.
“Quando estive na China e em Hong Kong garimpando cervejas artesanais, fui surpreendida pela quantidade de sabores produzida lá, embora ainda sejam poucas as microcervejarias”, conta Luísa. “Há uma clara tendência para a escola americana, com foco em estilos com bastante amargor e refrescância. Cervejarias como a Jing-A, a Great Leap e a Nine Dragons são bons exemplos, porém, infelizmente, não são encontradas aqui no Brasil.”
Sendo assim, a cervejaria escolhida foi a Japas: uma microcervejaria paulistana comandada por mulheres com descendência japonesa. Além de fazerem boas cervejas, elas inovam adicionando lúpulos e ingredientes orientais nas receitas, como a APA Wasabiru, que recebe wasabi durante a maturação, e a Bohemian Pilsner Matsurika, feita com pétalas de jasmim.
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